A açorda está presente na minha infância como algo detestável: o cheiro pestilento a alho, o ovo escalfado tremelicante e o molho que rapidamente era absorvido pelo pão…
Dia de açorda era dia de juízo final à mesa. Nenhum de nós três, duas raparigas e um rapaz, comigo a encabeçar a fileira da antiguidade, queria sequer ouvir falar na palavra AÇORDA. Gostávamos de pão em geral, como qualquer criança, mas de "pão molhado" como a minha irmã dizia, era outra história. E vivíamos em terra de festas de Espírito Santo....
A minha avó e bisavó maternas moraram sempre connosco e, como os meus pais trabalhavam fora todo o dia, cabia-lhes a tarefa de cozinhar, coisa que elas faziam com gosto. Por isso, até fomos bafejados pela sorte porque sempre imperou o hábito da comida tradicional e saudável.
Algumas vezes, quando íamos almoçar a casa - e hoje em dia o mesmo não se passa, infelizmente, com a maioria das crianças - lá estava a terrina da açorda em cima da mesa.
Elas conseguiam decifrar sempre o olhar desapontado de três crianças, mas isto não as impedia de, uma vez ou outra, confeccionarem as ditas açordas.
Com o tempo parece que se aprende a gostar e a apreciar certos pratos e, hoje, adoro açorda.
Uma verdadeira maravilha!
Elas conseguiam decifrar sempre o olhar desapontado de três crianças, mas isto não as impedia de, uma vez ou outra, confeccionarem as ditas açordas.
Com o tempo parece que se aprende a gostar e a apreciar certos pratos e, hoje, adoro açorda.
Este prato surgiu de um aproveitamento de caldeirada de raia. Como sobrou algum peixe do almoço, e tendo em conta que há que ser-se criativa, ainda mais nos tempos que correm, decidi transformar uma caldeirada em terrina de açorda. Apenas deixei os ovos de fora, uma vez que este prato já continha proteína animal. Que me desculpem os experts em açorda.
Desfiei grosseiramente a raia estufada .
Fatiei pão caseiro, barrei-o com manteiga e coloquei-lhe umas folhas de hortelã.
Refoguei alho cortado aos gomos com uma colher de azeite. Coloquei os alhos por cima das fatias de pão.
Dispus a raia desfiada em cima das fatias e cobri a terrina com o molho da caldeirada que levei a ferver.
Sentem o perfume a hortelã e a alho?
Bom apetite!
Patrícia
8 comentários:
Que engraçado... eu gostava quando a minha mãe fazia açorda com ovos escalfados, hortelã e chicharro seco salgado a acompanhar. Hummmmmmm, belos tempos... aquele caldinho desensabido, mas, simultaneamente, gostoso... "lavava as tripas", ihihihihih. Que saudades, que desconsolo!!! PMT
NA MINHA CASA ERA IGUAL QUANDO A MINHA FAZIA DAVA VONTADE DE FUGIR.
O MARIDO FEZ UMA DE BACALHAU , COMI E ATÉ NÃO ACHEI QUE ERA ASSIM TÃO MAU COMER AÇORDA.
A TUA FICOU COM ÓTIMO ASPECTO.
BJS
Concordo com a PMT. Também gostava imenso de açorda de alho. Já não como há anos. Tenho que pedir à minha mãe para fazer, pois abriste-me o apetite. De raia, nunca provei. Aliás, nunca provei raia. Nem sei confecionar. Compra-se já pronta ou tem que ser arranjada por nós?
Ilídia, costumo comprar a raia já consertada no mercado municipal. Amanhá-la dá imenso trabalho e se não soubermos como fazê-lo corremos o risco de ficarmos sem impressões digitais devido à sua pele que parece lixa. Mas garanto-te que vale a pena. É mesmo uma delícia, especialmente frita com um vinha d'alhos bem puxado de véspera.
Patrícia
Raia é um peixe que não aprecio muito, mas só de ver está tua receita, dá vontade de experimentar...
jinhos
O que eu gosto de uma boa acorda... A tua esta com um aspecto delicioso. Que bela receita : )Ja faz algum tempo que não faço, agora de ver a tua deu-me vontade de novo.
Beijinhos
Patricia, acho que é normal as crianças não gostarem de açorda, eu também não gostava nada e agora adoro. Com raia nunca comi, mas gostei muito da sugestão
Um beijinho
A minha infância diz-me que esse "rapaz" não era esquisito no que tocava a Raia ou a "pão molhado" :) Beijinhos e parabéns pelo blogue
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