sábado, 27 de agosto de 2011

Curtume de Perregil ou Funcho do Mar


Fiquei sabendo, através da Enciclopédia Luso-Brasileira, que o Perregil, Perrexil ou Funcho do Mar é uma planta que se encontra em toda a costa marítima Portuguesa.
Até há bem pouco tempo pensava que fosse uma endémica dos Açores porque, desde miúda, que, por altura do Verão, ia à costa apanhar o perregil para, depois de separado da flor, utilizar as suas folhas para fazermos curtume. Era um ritual sazonal, mais ou menos divertido. Saltávamos o muro que separava o caminho, na altura de bagacina vermelha, e num ápice já estávamos em cima dos lençóis pretos e ondulados de basalto. O perregil surgia espontaneamente e servia de sombra e esconderijo para alguma lagartixa ocasional. Mas do que mais gostávamos após a apanha do perrejil era do mergulho no mar, como se fosse uma recompensa após andarmos cautelosamente por cima das rochas. A minha avó ficava à nossa espera, aflita, na condição de quem não sabia nadar, e só via  as nossas cabeças a mergulhar e a surgir nas ondas refrescantes. Nem nos dava tempo para secarmos ao sol. E lá íamos nós pelo caminho acima deliciadas com o pretexto do perregil.



Curtume de Perregil

Depois da apanha da planta, que deve ser efetuada quando esta estiver verde e viçosa, separa-se a flor da planta, apenas utilizando para o curtume as folhas. Lavam-se as folhas, mergulhando-as numa bacia com água para lhes retirar alguma possível sujidade.

Preparam-se os frascos.

Escorre-se a planta e cortam-se com os dedos pequenos galhinhos com duas, três ou quatro folhas cada.
Colocam-se dentro dos frascos com cebolinhas e pimento vermelho.
Enchem-se os frascos com vinagre de vinho e fecham-se.

O curtume está pronto a comer quando a planta estiver com um tom verde azeitona.
Abaixo mostro-vos um frasco com perregil já pronto a comer (o da direita) e outro que ainda necessita de mais duas ou três semanas de cura.


Este curtume acompanha na perfeição quer pratos de peixe quer de carne.

Espero que tenham gostado desta sugestão!

Patrícia

20 comentários:

  1. as coisas que aprendemos umas com as outras ...bjokinhass

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  2. Nunca tinha ouvido falar nessa erva, mas gostei do resultado. Se calhar já as vi por ai e nunca liguei
    Um beijinho e bom fim de semana

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  3. Desconhecia, já aprendi qualquer coisa hoje!:-)
    Beijinhos

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  4. Que giro, não conhecia! Sempre a aprender coisas novas convosco! E a que sabe? Fiquei curiosa.
    Um beijinho.

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  5. Olá, Patrícia!Que giro, não conhecia essa conserva e não reparei se nas praias daqui há essa vegetação, mas vou ficar atenta!Gosto muito das ervas espontâneas que a natureza nos dá, e o que podemos fazer com elas. Adorei o teu texto!
    Beijinhos

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  6. Belinha, de facto a blogosfera tem destas coisas. Aprendemos imenso com os blogs umas das outras.

    Gisela, da próxima vez que for à costa, procure-a. Mas esta é a altura da apanha da planta aqui nos Açores.Por cá como há mais humidade e a planta não amarelece tão depressa. Aí o clima é mais seco. É até provável que já não esteja viçosa.

    Tixa, estamos sempre a aprender com as experiências umas das outras.

    Ginja, perguntaste-me a que sabe a planta. Apesar de também ser conhecida por funcho do mar, não acho que tenha o sabor do funcho. Talvez uma mistura entre a noz-moscada e o eucalipto. Não sei se descrevi bem. Fizeste-me uma pergunta difícil!:))

    Lina, este curtume não é muito conhecido das camadas jovens. Provém do tempo dos nossos avós. Nos nossos dias, com a vida que levamos, onde tudo é adquirido,as pessoas deixaram de olhar para as plantas que as rodeiam e desconhecem como podem ser utilizadas.
    Cá também temos muitas malvas e beldroegas que surgem espontaneamente desde os lugares mais inóspitos à pedra da calçada. As pessoas vivem absorvidas pelas suas vidas e não reparam nas pequenas coisas que estão tão próximas.

    Beijinhos a todas. Gostei das vossas reações.

    Patrícia

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  7. Olá. Sabes que o meu pai já conhecia? Diz que o meu avô (também do Pico) costumava apanhar e usar em curtume, misturado com as malaguetas. Eu, porém, nunca tinha ouvido falar desta ervinha. E sempre convivi com ela, quando ia para o Porto Martins, sem imaginar que se podia comer. Quando as minhas malaguetas estiverem comestíveis, vou experimentar misturar um pouco no curtume. Gostei bastante do sabor. É bastante diferente. Beijos

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  8. Afinal lá descobriste o nome correcto :) Tem muito bom aspecto. Também tenho essa memória, de ir para a costa (para a zona do Cachorro) apanhar essas plantas para os curtumes da minha avó. Há imenso que não ouvia falar neles. Obrigada pela lembrança. E obrigada pela prendinha. Gostei muito de te conhecer :) Beijinhos

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  9. Ilídia e Denise,

    Vejo que temos duas coisas muito importantes em comum: a culinária e avô e avós picoenses. Duas associações fantásticas (e relacionadas com o perregil).
    Denise, também foi um encanto conhecer-te.
    Beijinhos e continuação de boas férias!
    Patrícia

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  10. Desconhecia completamente esta planta.
    Será que também há cá no continente?
    Fiquei curiosa com o sabor...
    Beijinhos.
    Rute

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  11. Este verão foi a primeira vez que ouvi falar, nesse curtume, e claro aqui no Porto Martins estou t-ao habituada a ver essa planta a beira mar, mas nunca me pasou pelo a cabeça que podia -se comer !!! Jinhos,,,Diana

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  12. Essa receita, não vou resistir em fazer-lá! Vou estar atenta sempre que passear à beira mar, agora. :)

    Bjs.

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  13. Olá pipoka. Perrejil não é o mesmo que erva patinha.Nós cá nos Açores também usamos a erva patinha mas para fazer um tipo de esparregado mariscado(aí está uma receita que nunca publiquei!. O perrejil cresce espontaneamente da pedra basáltica e pelo Verão aproveitamos as folhas para fazer este curtume. Fica muito bom porque tem um paladar bastante sui generis, mesmo difícil de definir.
    Um abraço
    Patrícia

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  14. Patrícia,

    Eu depois percebi que não podia ser a mesma coisa, pois a erva patinha é considerada uma alga. Fico à espera desse esparregado, pois deve ser uma delícia. O meu pai está-me sempre a falar na erva patinha... embora vá regularmente ao Faial, nunca provei.
    O curtume de perrejil provei uma vez na Quinta do Martelo e adorei, mas na altura não me souberam explicar bem o que era. Por isso, este post foi uma boa lição para mim.

    bjs

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  15. Estou deliciada com tanta novidade. E fiquei ainda mais curiosa com o sabor a eucalipto e noz moscada. Gosto de ver e saber que vais cultivando estes saberes antigos e que os partilhas. Beijinhos

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  16. Muito obrigado por esta informação tão interessante e útil. Há uns meses ouvi falar pela 1ª vez em funcho do mar e fiquei com muita curiosidade, pois conhecia bem o funcho campestre e já o utilizava em refeições e chás. Além disso vivo perto do mar e conhecia a planta, mas não sabia, de modo nenhum, que seria o que vim a saber - que era o funcho do mar. Desde que soube já utilizei o funcho do mar em diversas "coisas", não sei se bem, mas soube-me sempre... bem. Agora vou fazer como diz, e como mostra. Uma pergunta: as flores não são aproveitáveis? Diz que só se aproveita as folhas, nesta preparação, mas as flores não poderão ser utilizadas para outros fins? Agradeço, Manuel.

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  17. Olá Manual.
    Fiquei curiosa em relação aos outros destinos que deu ao funcho do mar. Diga-me, se puder, em que receitas o utilizou. Também gostaria de o utilizar de outras maneiras. Quanto à flor, a minha avó descartava-a quando fazíamos o curtume. Não sei se terá outros fins culinários. Vou tentar saber através de uma prima e depois digo-lhe.
    Obrigada pelo comentário e desculpe-me por não responder mais cedo.
    Patrícia

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  18. Na Ilha das Flores, pelo menos em nossa casa, não se fazia o curtume apenas de perrexil. Levava cebolinha, cenoura, etc., e o perrexil era para lhe dar o sabor. Tenho uma plantas no jardim e , quando compro picles, junto-lhe uma folhinhas para lembrar o gosto da infância...

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